6 de agosto de 2009

19 anos


Eu tinha 11 anos, não me lembro de tanta coisa como gostaria, mas a verdade é que as lembranças que não tenho desse dia não me fazem falta.
Me lembro de começar o dia normalmente e de estudar no período vespertino (como era chamado), e por causa do horário da aula, almoçava cedo. Eu entrava na escola às 11 e antes de sair me lembro de perguntar à minha mãe se ela queria que eu faltasse a aula porque ela não estava se sentindo 100%. Ela me mandou pra aula, disse que era cansaço e que depois do almoço ela iria descansar e ficaria bem. No meio da tarde, mais precisamente no horário do intervalo, fui chamada à diretoria, e como isso não era lá tão novidade assim, não estranhei. Mas aquele dia a minha vida ia mudar. Minha mãe não iria mais me preparar o almoço antes de ir pra aula, eu não iria mais poder abraçá-la, beijá-la e lhe contar minhas histórias. Eu não poderia mais choramingar no seu colo e fazer valer a minha posição de filha mais nova. Não iria mais ouvir sua voz e muito menos o "Cinnnnnthaaaaaa"que ela gritava pra me fazer entrar depois de brincar a tarde toda na rua de casa. Minha vida jamais seria a mesma.
Depois de ser chamada pela diretora e encontrar duas vizinhas me esperando, comecei a estranhar. Elas me disseram que minha mãe havia passado mal e sido levada ao hospital.
Me lembro de chegar ao hospital e ficar "perdida" procurando meu pai ou uma de minhas irmãs pra saber como minha mãe estava. Meu pai veio ao meu encontro e quando perguntei se minha mãe estava bem ele disse que ela não voltaria mais pra casa. Me lembro de gritar mas, pra ser honesta, não sei se o grito foi audível.
Depois disso só me lembro dos meus padrinhos chegando no velório e de ser levada por meus tios pra passar a noite na casa deles em São Caetano do Sul. No dia seguinte, a volta pra casa depois do enterro foi uma parte muito dolorosa do processo todo. O vazio que senti ao entrar em casa e não ver minha mãe na cozinha, onde costumava estar na hora em que eu chegava, é uma sensação que não consigo explicar.
Com o tempo, a sensação que se tem é que ela está em uma viajem longa, mas que eu sabia ser sem volta. Com mais tempo ainda, a vida segue seu curso e você se acostuma com a ausência, mas não com a falta. Hoje, na crise dos trinta anos, e amadurecendo a cada dia, vejo que naquele dia saí da infância pra sei lá que fase. Crescer foi uma consequência.
Bem mais "crescidinha" posso dizer que minha mãe me ensinou muito, mesmo tendo pouco tempo. Todos os dias me pego falando frases que ela usava, fazendo coisas da maneira que ela fazia e talvez cometendo os mesmo erros que ela, mas me orgulho disso, afinal, quem sai aos seus não degenera.



Um comentário:

  1. saõ lembranças boas,e quando vc for mãe vão estar muito mais presentes,delicia poder dizer que tivemos mãe .bj te amo

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