31 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 9 - o parto)


Certa vez, conversando com a minha sogra sobre o parto, ela disse:
 _ A dor é tão grande que quando parece que você vai morrer, ele nasce e acaba tudo (!). 
Era por essa dor que eu estava esperando e ela ainda não havia chegado. 

Eu sabia que o Dante ia demorar pra nascer e isso ia se confirmando quando de tempo em tempo, vinha alguém meter a mão pra saber como estava a dilatação... passei a manhã toda nesse processo... 5, 6, volta pra bola, ela ajuda a dilatar! Até que a hora do almoço chegou e eu com fome só queria saber se eu poderia comer ou não, ainda bem, eu pude.

Almoçar com contrações foi engraçado. A sopa estava ótima (mesmo) e quando a dor vinha eu esticava o braço e entregava o marmitex pro Bruno segurar, quando a dor passava pegava de volta e continuava comendo. (Seria melhor se a maternidade tivesse aquelas mesinhas de comer na cama sabe... mas, fazer o quê!!)

Durante todo o dia pude ouvir outras mulheres dando à luz. Foi um processo interessante... interessante e torturante eu diria. Uma que estava bem ao meu lado parecia que estava na manicure tirando uma unha encravada. Quase nem se ouvia seus grunhidos e de repente tudo acabou. Rápido, limpo, quase indolor. Pensei: que bom, pode ser assim! O meu vai ser assim, já já!! (só que ela estava parindo o terceiro filho...) E então a "cabine" da frente se fecha, começa um corre-corre, gritos, choro, desespero, dela e meu. Essa sim trazia ao mundo seu primeiro filho, igualzinha à mim só que no fim, o bebê dela era prematuro e uma cesárea foi necessária. 

Ouvindo tudo isso chorei compulsivamente. Eu estava sentada na bola e agarrada à barra da bermuda do Bruno, com 8 cm de dilatação, uma dor tremenda, um medo iminente e tomando consciência de como ainda iria doer. Pedi pro Bruno acabar com aquilo, eu não queria mais ser mãe naturalmente, queria uma anestesia ou qualquer coisa que não me fizesse mais ouvir aqueles gritos, e que fizesse a minha dor passar mas, daqui pra frente quem gritou fui eu, e muito.

E eles continuavam me mandando sentar na porra da bola.
(O Bruno comentou depois que achou, honestamente, que eu ia mandar alguém enfiar a bola em algum lugar menor que seu diâmetro).

Nesse ponto eu já não aguentava mais caminhar no pequeno jardim que tem nos fundos do hospital e muito menos sentar na bola. Com oito dedos de dilatação a dor vai dominando e tudo o que eu queria era fazer força. Meu corpo fazia força.

Deitei na maca e segurando no lugar apropriado, comecei a empurrar o Dante pro mundo.
Eu só conseguia pensar que a hora havia chegado, isso no pouco tempo entre uma contração e outra, um grito e outro. Chamei por Deus, por socorro, pelo Bruno, pelos médicos e acho que por todos os santos e orixás que tenho conhecimento, aos berros. Vieram me examinar e então um corre-corre pra ajeitar meu leito. As camas que parecem comuns são transformers, liberaram abas e partes escondidas e subitamente ela subiu e eu estava em posição, com os pés apoiados e a perna mais aberta do que eu sabia que podia.

Eles me mandavam fazer força:
_ Faz força Cinthia!! Faz força como se fosse fazer cocô!!!

Fala sério!! Eu queria colocar meu filho no mundo não defecar na porcaria da mesa!
É muito intrigante eles te mandarem fazer isso mas a força que se faz é a mesma... bom, a mesma não, eu diria que é no mesmo lugar mas a mesma, nem pensar!

Muito grito, choro, suplício por anestesia, uma dor lancinante, muita força, uma dor lacerante, gritos e grunhidos, muita força, uma dor descomunal e então uma preocupação começou a rondar... tinha mais gente no meu leito que nos outros, a médica chamava por um pediatra que não vinha, comentava que meu colo ainda estava grosso e eu fazia força cada vez que a dor apertava. 
Quando comecei a me preocupar de verdade... viram a cabeça do Dante saindo. 

_ Não pára Cinthia, não fecha a perna, vai! vai! vai! tá quase saindo!!

Pra fazer a força correta encostei o queixo no peito, olhando pra baixo e senti meu quadril alargando e ele coroar. Nesse ponto a médica fez uso de sucção pra que ele saísse de vez e eu não podia parar de fazer força embora eu já não tivesse mais forças. 

Não dá pra descrever a dor que senti porque nunca senti uma dor tão forte, parecia que eu ia "espocar", virar do avesso, ter o quadril lançado a metros de distância, mas a sensação de que está acabando veio junto. Com a sucção a cabeça saiu, quando vi a cabeça dele senti os ombros passarem, um ardor enorme e então o resto do corpo e o alívio. Ele estava no meu colo! Eu chorava, respirava, ria, sentia alívio, medo, alegria, cansaço, desespero (atrasado), um turbilhão de sentimentos inexplicáveis até que ele chorou e tomei consciência de que ele havia nascido. Dante estava em meus braços e eu não conseguia mais pensar, só olhava aquele corpinho melado de todos os líquidos e gosmas e sangue e pensava: _ como ele é lindo!!! Acabou!! Ele está aqui! 


Não sei quanto tempo esse último processo durou mas, apesar de parecer longo não durou muito. Dante nasceu às 16:03h do dia 10/09/2012 com 49 cm (ufa! ele não é um alien!), 3.265 kg e o cordão umbilical enrolado em duas voltas no seu pescoço. Mesmo assim, tudo deu certo e hoje, depois de tudo, posso dizer:

_ Me tornar mãe foi a coisa mais rock n' roll que já fiz na vida!




O Bruno se manteve ali, firme e forte, sem desmaiar nem fraquejar. Segurou minha mão, chorou comigo, me motivou e ainda cortou o cordão umbilical, e isso me deixou mais feliz ainda!

(nos melhores momentos da vida sempre estaremos descabeladas)
Sempre ouvi dizer que depois que nasce, acabou. Mentira!! Retirar a placenta dói também, anestesiar e levar pontos por causa de uma pequena laceração dói mais ainda. Eu nem conseguia olhar direito pro Dante ali no meu colo por causa dessas pequenas dores dos procedimentos pós parto mas eu queria vê-lo. Queria olhar pra ele, seus dedinhos das mãos (grandes pacas por sinal), seus pés, queria ver se cada pedacinho estava lá, perfeitinho e passei então pra investigação: olhei mãos, pés, dedos, lábio, genital... eu queria olhar pra cada pedaço dele e saber se tudo estava ali, se ele era perfeito com todos os seus "seis dedinhos" como a gente costumava brincar durante a gravidez e tudo estava lá, em seus devidos lugares!


Ainda durante os procedimentos pós parto eles já me incentivaram a amamentar e a sensação é que ele nasceu com dentes! Amamentar é difícil, ainda mais aprender a amamentar ali, com dor, desajeitada, exausta! 

O que ajudou foram todas as precauções que tomei na gravidez (vou contar as dicas no próximo post) e as enfermeiras, que entendem essa dificuldade e vem socorrer, dar orientação... Também colocaram as pulseiras de identificação o que me deixaria mais tranquila caso ela não fosse larga o suficiente pra sair do bracinho dele. 

Após o parto eles apenas limpam o bebê superficialmente, pesam, medem, colocam a solução de nitrato de prata em seus olhinhos, o vestem e o devolvem pra mãe. Mesmo assim, a troca de bebês sempre foi o que mais me apavorou quando eu pensava no parto e o Bruno, sabendo disso, acompanhou o Dante e me deixou tranquila.

Quando o devolveram pra mim ele estava enroladinho nas roupinhas que tantas vezes olhei imaginando como seria essa cena. Senti o tempo congelar pra que eu o observasse e ele era calmo e lindo como o pai, branquinho como eu. E o Bruno... o Bruno sorria com os olhos como nunca antes eu havia visto, sua alma estava iluminada e isso o tornava radiante. 

Nós estávamos felizes.

Mais de 10 horas de trabalho de parto e enfim estávamos com nosso filho no colo. Podíamos comemorar, mas antes, iríamos passar a noite na enfermaria e fomos pra um quarto com o ar condicionado quebrado.

Depois de dar à luz num processo tão extasiante e intenso eu estava "anestesiada". Eu havia passado pela experiência de um parto normal, me sentia uma super-mulher, exausta, mas uma super-mulher!! Meus braços e pernas doíam mas meus olhos estavam abertos, eu não conseguia parar de sorrir ao olhar pro Dante e quando me voltava pro Bruno, lá estava ele, com o mesmo sorriso no olhar apesar de todo o calor, o desconforto e os pernilongos presentes.

                                     

No mesmo quarto estavam mais duas meninas, ambas na casa do 20 anos que haviam perdido seus bebês, ambas fitavam o Dante com alegria e dor presentes no olhar. Me senti mal por elas. Como podia eu demonstrar tamanha felicidade, abraçar e beijar meu filho e marido comemorando nossa nova vida com elas ali ao lado, passando tamanha dor? No começo achei que seria mais "humanizado", seguindo o termo que eles costumam usar para seus partos, que a maternidade separasse os casos mas hoje não tenho tanta certeza. Quem sabe a nossa felicidade tenha levantado o astral delas e ajudado a manter a esperança? Prefiro pensar assim...

Depois de tudo, voltar pra casa no dia seguinte foi como completar o sonho. 

Chegar e ver que tudo o que preparamos durante esses nove meses pode agora enfim, ser usado, é mais do que bom. Trazer o Dante com saúde, perfeitinho e deixar a casa toda com cheiro de bebê é a melhor parte da história, talvez a história mais intensa que eu e o Bruno temos pra contar desde que nos conhecemos (e ela está só começando!).


                       

26 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 8 - he's coming)


Domingo 09/09 acendemos a churrasqueira e almoçamos ouvindo um sambinha num calor daqueles. Depois do cochilo da tarde, senti vontade de comer bolo de chocolate com sorvete de creme, lindos, os homens da casa se prontificaram a me atender e lá pelas 16h, o Caio fez o bolo e o Bruno comprou o sorvete mas, antes de o bolo sair do forno senti como se tivesse feito xixi na calça e fui pro banho só que a quantidade de água era maior que o normal e senti um segundo fluxo. Chamei o Bruno.

Pelo que tinha lido a bolsa rompia de uma vez e o fluxo era bastante grande, mas o meu era diferente, saía aos poucos. O Bruno imediatamente procurou "pai google" e viu que aquilo também era possível. Com um teste rápido - deitei na cama e com uma toalha entre as pernas tossi, o líquido saiu novamente - confirmamos.. estava acontecendo, a bolsa havia rompido!

Ele ficou pálido. Começou a andar de um lado pro outro sem saber o que fazer... 
Dez dias antes do previsto o filho dele queria vir ao mundo!
Falei pra ele se acalmar que aquilo podia levar muitas e muitas horas, tomei meu banho e fui arrumar a minha mala da maternidade, a do bebê já estava pronta a algumas semanas.

Alguns dias antes, tentando me preparar pra esse momento, pesquisei o que seria necessário levar pra maternidade e fiz uma lista, isso me ajudou porque o Bruno pode se orientar e me ajudar, além disso, também me informei sobre a água da bolsa, que não pode ser escura nem esverdeada - isso pode indicar o sofrimento fetal - e ainda bem, a minha estava transparente com um pouco de sangue, o que também é normal.

De mala pronta e banho tomado fui estender a roupa que a máquina havia acabado de lavar. O Bruno ajudava e falava que eu deveria entrar no carro e irmos logo, que aquilo era ridículo, como eu poderia estender roupa com a bolsa rota?

Mas eu sabia que poderia demorar pelo menos dois dias pra eu voltar pra casa, então...

Fomos eu, o Bruno e o Caio (meu sobrinho) pra maternidade e depois do dolorido exame de toque, vimos que eu não havia dilatado nem um centímetro, mesmo assim, o médico já avisou que eu não voltaria pra casa sem meu bebê. Eu ficaria internada até ele resolver sair.

Pra começar o processo troquei os absorventes que vim usando de casa pelo "fraldão", um absorvente mega-ultra-grande que eles tem na maternidade. Foi ótimo porque o fluxo da água da bolsa de repente aparecia e molhava tudo! 

Tomei soro, fiz um exame que dura 20 min acompanhando o batimento cardíaco do bebê, tirei sangue e conheci outras mulheres prestes a se tornarem mães pela primeira vez como eu, uma delas tinha 14 anos. Tive tempo pra pensar em tudo o que passei na gravidez, as alegrias e as dificuldades e pensei em como estaria sendo para aquela menina, da idade da minha sobrinha, estar ali, sentindo o mesmo que eu, macaca velha.

Difícil imaginar que uma criança esteja preparada pra isso. Mais difícil ainda é aceitar que isso é comum pelas bandas de cá.

Enquanto eu esperava o pinga-pinga do soro acabar o Bruno levou o Caio pra casa e trouxe um lanche pra mim. Do soro fui encaminhada para uma ultrassom que mostrou que o bebê estava bem mas que tinha +/- 54 cm!! Agora sim me senti um alien que carregava outro. Como assim 54 cm? Que bebê é esse? Filho de gigante?
Eu e o Bruno tomamos um susto e descrentes só podíamos esperar pra ver...

Depois disso me mandaram pra enfermaria onde eu passaria a noite. Mandei o Bruno de volta pra casa por que a cadeira que acomoda o acompanhante é desconfortável e estava quebrada. Prometi pra ele que ligaria assim que as contrações entrassem na casa dos 5 em 5 min. 

Algumas coisas poderiam ajudar muito na minha "crítica" à maternidade mas, a verdade, é que tem muita coisa que não funciona... o bom mesmo foram as pessoas, dos faxineiros aos médicos fomos bem tratados e isso fez toda a diferença.

(enfermaria)
Acima da cabeceira de todos os leitos existe uma luminária mas nenhuma estava funcionando. 
Se funcionassem não seria preciso acender a luz do quarto e incomodar todas as pacientes pra prestar atendimento apenas a uma. Os botões para chamar os enfermeiros também não funcionam, sendo assim, se você não estiver acompanhada o jeito é segurar a onda, levantar e ir até lá, gritar e acordar todo mundo ou pedir para o  acompanhante de alguém, que esteja por ali, faça isso por você. Acredite, as pessoas ainda se ajudam, principalmente nesses momentos. 

O banheiro é outra coisa que me deixou estressada. 
O papel higiênico fica ou atrás do vaso ou na lateral, longe do alcance das mãos de quem está com um soro enfiado na veia e sentindo dor. Infelizmente não fotografei porque eu não conseguia pensar em mais nada a não ser na minha dor, no meu parto, no meu bebê que estava pra chegar!

Durante toda a noite as contrações foram chegando, aumentando... 
Lá pelas 5 da manhã eu liguei pro Bruno. Estávamos prestes a conhecer nosso filho e isso trazia a ansiedade junto com a dor que agora estava se fazendo presente de 3 em 3 min.
Quando ele chegou me acompanhou em outro exame de toque e eu estava com 3 cm de dilatação. Nesse ponto eu achava que a dor já era forte e que por causa do pouco tempo entre uma contração e outra estaria mais dilatada, mas percebi que aquilo iria durar muitas horas...

Fui pra outra sala (onde seria o parto) e me colocaram em outro soro, as contrações diminuíram e fui orientada a me exercitar pra ajudar no processo.

(maca transformer - sala de parto - foto: Bruno Monteiro)
De agora em diante fomos eu, o Bruno, as contrações, o soro, a caminhada em círculos pelo pequeno jardim e a bola de pilates num trabalho de paciência e dor, esperando as horas passarem e a dilatação aumentar.

(passeio pelo pequeno jardim - foto: Bruno Monteiro)


24 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 7 - Ansiedade em alta)


Como meu parto estava previsto para a segunda quinzena de setembro eu estava tranquila. O Bruno em compensação parecia que ia parir no meu lugar, tamanha ansiedade que ele começou a sentir.

O parto o assustava muito e quando eu falava que o queria do meu lado então, a coisa piorava. Mesmo com meu médico explicando tudo e elogiando a maternidade, a ansiedade insistia em se fazer presente. Pra diminuir esses sintomas resolvemos ir até lá pra ver como é a maternidade e o que deveríamos fazer quando fosse chegada a hora, inclusive a rota que seguiríamos de casa até o hospital.

Fomos bem atendidos e pelo que deu pra perceber esse tour pela maternidade parece acontecer com frequência. Nos informamos sobre os procedimentos que deveríamos tomar quando eu voltasse pronta pra hora H, os documentos que deveríamos trazer, pra qual sala ir, etc, etc. Pelo menos agora ele sabia pra onde ir na hora em que eu estivesse com a cabeça do bebê apontando entre as pernas, gritando como louca... (acho que esse era o cenário que ele imaginava tamanha sua preocupação).

Você pode ver um vídeo de quando a maternidade foi reinaugurada clicando AQUI

Apesar de toda a informação que recebemos não pudemos entrar nas dependências da maternidade e portanto não vimos a enfermaria e muito menos a sala de parto. Talvez devido ao horário não nos foi permitido mas mesmo assim, ter ido até lá e conversado acalmou os ânimos e abrandou a ansiedade.

A maternidade em questão é a Bárbara Heliodora, a maternidade pública de Rio Branco, muito elogiada porém, elogiada por quem nunca a utilizou... a esmagadora maioria das mulheres com quem conversei teve seus filhos num hospital particular da cidade e eu me perguntava o porquê. Porque todo mundo elogia mas ninguém pariu lá?

A resposta vem com uma palavra: cesárea.

Durante todo o período da gravidez tentei me informar o máximo que pude e tantas histórias me fizeram ter certeza de que o parto normal seria a melhor escolha. 
Combinei com o Bruno que só recorreria à cesárea se fosse necessário, mesmo que eu pedisse, implorasse, ele deveria me manter focada em parir o nosso filho do modo mais natural possível afinal, porque eu optaria por uma cirurgia com recuperação demorada se eu poderia sentir meu filho nascer? Porque eu pagaria quase 6 mil reais por um parto se eu poderia reverter esse dinheiro pra pagar mais um pedacinho do nosso chão?

Tudo bem que a recuperação de uma cesárea pode não ser tão ruim assim e que o parto normal pode ter complicações... mesmo assim eu estava disposta a ir até o fim. 
Queria sentir meu filho nascer, passar por essa experiência tão mágica e dolorosa como dizem e saber enfim, o que era "ter" um filho. 

Como parei de fotografar com oito meses agora eu só pensava no parto e isso aumentava ainda mais a ansiedade. Nesse período eu já havia lavado e passado o enxoval todo, arrumado e desarrumado a cômoda dele, mudado as coisas de lugar e fazia listas: do que faltava no enxoval, no quarto dele, do que consertar na casa, do que levar pra maternidade. E embora tenha ficado descompensada fazendo listas isso me ajudou muito porque eu me sentia organizada e com isso conseguia manter a calma.

Agora tudo o que eu queria era conhecer o Dante mas pra isso eu precisava esperar e eu detesto esperar... 

O jeito era ir tentando controlar a ansiedade sem descontar na comida e pra isso resolvi fazer os bicos de crochê nas fraldas e os tsurus pra cortina do quarto dele. 

                  
 

Aliás a montagem do quarto dele daria uma novela... desde o conserto do telhado até a poltrona de amamentação, tudo, exceto os presentes fofos, deu um probleminha qualquer. Uns maiores outros nem tanto... mas a verdade é que só conseguimos finalizar o quarto quando o Dante já tinha um mês! Mesmo assim, adoro tudo no quarto... desde o abajur escolhido pelo pai, passando pela mesinha e baú reciclados, os livros da vovó... tudo! Ficou lindo!!! 





21 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 6 - resolvendo o que falta)


Já entrando no mês de setembro, o derradeiro, resolvemos colocar logo em prática os eventos pendentes... o primeiro era escolher o nome. Todos os dias falávamos nisso. Assistimos às olimpíadas prestando atenção à todos os nomes malucos que apareciam pra ver se nos inspirávamos mas o Bruno não tirava o "Rafael" da cabeça.

Acho Rafael um nome lindo, leve, mas comum. Comum porque conheci um monte de Rafaéis durante minha curta jornada e por isso mesmo queria alguma coisa mais marcante. Também porque, afinal, a nossa história não é comum e o nome do nosso filho tinha que representar isso. Fomos dormir e antes de o sono vir, mais uma vez, conversamos sobre o nome... até que surgiu Dante.. Dante? - o Bruno respondeu: Gostei! É isso!!

Enfim escolhemos o nome do nosso filho: Dante Davanzo de Alcântara Oliveira!

(no fim acho que as olimpíadas ajudaram porque somos fãs da seleção masculina de vôlei!)

Agora sim eu podia conversar com ele, e já acostumá-lo com o som do seu lindo nome. Várias vezes me surpreendi com uma reviravolta dele quando eu o chamava e lhe falava algo, até ao Bruno ele respondeu, e isso... isso deixa a gente bobo, feliz demais!!


 O segundo evento foi fazer um "churrasco da fralda" porque chá de bebê é muito restrito e o Bruno queria comemorar também com os amigos dele, sendo assim, um churrasco com cerveja vai melhor que chá, mas, no dia do churrasco ventou e choveu tanto que vieram poucos (mas bons) amigos. Mesmo assim nos divertimos e refizemos o churrasco novamente alguns dias depois, dessa vez sem chuva nem vento.

     

                                  

Mesmo já tendo feito este evento, minha sogra que mora a mais de mil kilômetros de distância, resolveu fazer um chá de bebê virtual que, pelo que sei, foi o primeiro da história!

Ela, minha cunhada, suas irmãs e amigas se reuniram e fizeram a festa. Nós participamos on line. Foi muuuuito bacana!!! Revi muita gente legal, senti saudade de morar lá de novo, de estar mais perto da família. Foi ótimo nos sentirmos amados e acarinhados, além de ganharmos vários presentes fofos pro Dante. O máximo!


Já o terceiro evento que havíamos programado era a sessão fotográfica. Marquei e desmarquei umas três vezes mas conseguimos fazer no dia 07/09. Fizemos no Eco Estúdio Fotográfico e o resultado foi fantástico!


Foi estranho ficar do outro lado da lente, mas o clima descontraído e o maridão junto, tornou tudo muito mais fácil e prazeroso.


 Fazer as fotos, tanto estas quanto todas as outras como os auto-retratos, teve um papel fundamental pra mim. Não só pelo fato de eu ser fotógrafa e esse ser o registro de um dos momentos mais especiais da minha vida mas também porque ajudaram muito a levantar a minha auto-estima.

Sempre ouvi que as mulheres grávidas se sentem lindas, especiais e blá blá blá... por isso mesmo me sentia mal cada vez que me olhava no espelho e me via gorda e feia. Também me senti culpada várias vezes em que me peguei pensando que meu corpo nunca mais seria o mesmo porque, afinal, como eu poderia ter um pensamento tão mesquinho quando o que importava é que me tornaria mãe e estava vivendo um dos momentos mais importantes da minha vida?

Queria só pensar na alegria que estava sentindo em estar grávida, que meu bebê estava ali dentro de mim, saudável e feliz e que isso, por si só, já deveria me fazer sentir linda mas, o que descobri na gravidez é que, até agora, ser mãe é viver em dualidade e isso pelo jeito vai se perpetuar.

Aprender a conviver com novos sentimentos, com novas formas de olhar pra si mesma e para o mundo fazem parte do processo...


18 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 5 - os desconfortos)


Fizemos uma viagem para Belém-PA para um congresso de fotografia e quando me posicionei para embarcar no avião como preferencial me olharam feio. Já no avião, pedi um travesseiro pra me acomodar melhor e a aeromoça, muito gentil, informou que os travesseiros eram destinados aos passageiros preferenciais e que não haviam mais travesseiros disponíveis. O Bruno já irritado informou sobre a minha gravidez e ela, com cara de espanto, arrumou um travesseiro mais do que depressa.

No supermercado a mesma coisa. Caixa exclusivo e lá vem uma senhora de uns 60 e poucos... entra na minha frente como se a minha barriga fosse um monte de gordura desprezível e me olha como quem pergunta se eu não tenho vergonha na cara.

Momentos difíceis pra quem quer exibir a barriga de 06, quase 07 meses da primeira gravidez!

Até aqui eu já havia me acostumado a me sentir bonita/feia, gorda/grávida, mas é complicado lidar com os sentimentos que surgem quando as pessoas te "destratam" ou te desdenham por estar grávida. Ainda bem que durante esse período ajudei o Pium a trazer a oficina de fotografia documental - Bem querer - com João Roberto Ripper. 
A oficina é fantástica e o Ripper um mestre. Esse auto-retrato foi feito durante a oficina e devo dizer: ajudou muito nesse período bem difícil e me fez sentir linda e com mais vontade ainda de exibir a barriga, mesmo que pequena!

(auto-retrato)
Outra coisa desagradável que passei nesses 9 meses foi a síndrome das pernas inquietas.
Pelo que li apenas 10% das grávidas são atingidas por esse problema e apenas 3% permanecem com ele depois da gravidez. Mas eu claro, tinha que fazer parte dessas estatísticas.

Sentia uma agonia do joelho pra baixo, principalmente nos tornozelos, uma coceira nos ossos, um palpitar nos músculos, uma circulação sanguínea acelerada, algo assim, do tipo bem complicado de explicar. 
Os dias em que fiquei mais tempo trabalhando, em pé ou sentada no computador, foram os piores e pra melhorar só colocando as pernas pra cima, o que além disso ajudou a melhorar a circulação já que meus pés viviam inchados. Banhos quentes também ajudaram e se você tiver um tapete de bolinha daqueles que chegam a "fincar" o pé, melhor. Esse tapete massageia o pé durante o banho e me ajudou muito a relaxar nas horas de crise, graças à ele, um presente da minha sogra, consegui dormir em algumas noites bem críticas.

O Bruno ajudava como podia, fazia massagem e era paciente com minhas reviradas e chacoalhadas súbitas na cama, depois dormia como um bebê e eu ficava ali, querendo arrancar os pés pra ver se conseguia dormir.

(Durante o ENNEFOTO.12 em Belém-PA)


Outra coisa que costuma atrapalhar o sono das grávidas é o peso da barriga. A minha começou a pesar e a incomodar só no último mês, afinal ela era pequena até então e nunca me atrapalhou o sono. Muitos travesseiros me ajudaram nessa parte da adaptação...

Fora isso, fica uma dica: não saia de casa sem aqueles absorventes de uso diário. Se você espirrar e estiver sem ele... Eu não podia rir muito também... era xixi na certa!! 
Só aquela escapadela é verdade, mas quando você está fora de casa isso pode ser um problema!

E por fim, mas não menos importante, o que me incomodou durante a gravidez, mesmo, foi o calor. Aff! morar no Acre é complicado nessas horas... pouca roupa, muitos banhos, e paciência, muita paciência até este menino nascer!!

16 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 4 - it's a boy!!)


Até aqui (mais ou menos 5 meses de gestação) eu já tinha lido bastante sobre gravidez mas os dois livros que mais gostei foram:

Para as mamães:

- Onde vende o Manual (Graziella Moretto)
  
e outro para os papais:

- O Manual do Grávido (Claudio Csillag e Humberto Saccomandi)

Os dois nos ajudaram muito a dismistificar a gravidez com bom humor, o que é melhor!



Com 24 semanas de gestação fomos fazer a ultrassom morfológica. Esse é um exame essencial pra acabar com várias encanações porque é possível analisar cada órgão da criança, fora isso, é muito emocionante ver cada pedacinho do seu bebê.. boca, nariz, coluna vertebral, e sexo ... UM MENINO!!! Eu sabia, era tudo o que conseguia pensar, eu sabia!

A emoção é grande quando a gente descobre o sexo. A imaginação fica ainda mais aguçada... como vai ser o rostinho dele? Será que ele vai ter bastante cabelo? vai ser moreno igual ao pai ou branquelo igual à mãe? E a boca? os olhos? o nariz? Tudo isso já passava pela nossa cabeça mas quando a gente descobre o sexo parece que uma parte da imaginação se concretiza e dá espaço a outras tantas outras facetas que não tínhamos imaginado... 

Saímos da clínica já pensando que, agora sim, poderíamos comprar o enxoval porque eu
já havia comprado algumas coisas, brancas, mas a esmagadora maioria das coisas ou é azul ou rosa, ou ainda verde com carrinho e amarela com lacinho. Impossível não saber o sexo hoje em dia e querer fazer o enxoval antes do bebê nascer.
Bom, isso agora vai ser fácil de resolver, difícil mesmo vai ser o nome.



A primeira roupa para o nosso menino!


Como pode ser tão difícil escolher o nome de um filho?

Fizemos listas e listas, trocamos e-mails, horas de conversa, sugestões de amigos, pesquisa de significados, numerologia e o que mais eu tivesse disponível, mas até então, nada. O nome é a identidade, ele vai ser chamado assim o resto da vida, vai ser a primeira impressão, o modo como será lembrado e na nossa experiência e crença, influencia na personalidade. Como então escolher um nome que seja ideal? Que agrade a ambos? Eu e o Bruno ainda não chegamos a um acordo.

ê coisinha complicada!

12 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 3 - meu bebê se mexe!)


No dia primeiro de maio de 2012 senti o bebê mexer pela primeira vez.

Antes disso já tinha ligado pra minha irmã e perguntado como era essa sensação porque estava sentindo umas coisas na barriga e não conseguia distinguir se eram gases ou o bebê (não se engane, os gases vão surgir em grande volume e vão percorrer o seu corpo procurando a saída) mas ela me garantiu que eu saberia a diferença, e eu soube.

Quando senti seu primeiro movimento comecei a rir involuntariamente. Que sensação incrível! Pela primeira vez me senti grávida de verdade, gerando uma vida, uma vida que se mostrava pra mim como quem diz - sim, eu estou mesmo aqui, dentro de você! É como se fosse a confirmação de que está tudo bem, o bebê está vivo, saudável e que de acordo com a data vai te dar trabalho.

Ao mesmo tempo me senti um alien. Como posso eu carregar outro ser humano dentro de mim? Outra vida, outro coração que bate, outro corpo?

A partir de então eu queria que ele se movimentasse o tempo todo!
Eu chamava o Bruno cada vez que sentia qualquer movimento, mas ele ainda não conseguia perceber os movimentos do bebê dentro de mim e, quando isso finalmente aconteceu, foi outra grande emoção da gravidez. Mais choro, mais risos! Pode parecer um clichê danado ficar repetindo choros e risos mas é assim que a gente sente. A dualidade de estar feliz gerando uma vida saudável com toda a preocupação que isso gerou em mim foi muito choro/riso pra aguentar.




Eu me preocupava se ele seria saudável, se corria o risco do autismo, do lábio leporino, se os órgãos estavam se desenvolvendo bem, se o que eu comia/ pensava/ sentia/ poderia influenciar em qualquer coisa que fosse. 

Todas essas encanações iam embora quando ele fazia o menor dos movimentos. É como se a conexão fosse tamanha a ponto de ele conseguir afastar meus pensamentos preocupados com um simples mexer de dedos. Um simples movimento servia como sua voz me dizendo que estava bem, que isso era se preocupar demais e que era mais legal aproveitar e sentir aquela vida dentro de mim, pulsando, do que ficar imaginando tudo o que podia dar errado. Tive que aprender a lidar com uma ansiedade maior do que a que costumava ter, e já não era pouca.

Nesse período, fora todas as encanações, uma outra ansiedade começou a dominar: a descoberta do sexo do bebê. Toda vez que passava por uma vitrine eu olhava todas as roupas e brinquedos de menino mas ainda assim olhava os laços e fitas... eu precisava ter certeza não só pra escolher e comprar o enxoval mas pra definirmos o nome. O engraçado é que mesmo sentindo, desde o primeiro momento que seria um menino, escolhemos primeiro o nome pra uma menina. Olívia. Se fosse menino, bom, isso seria um desafio à parte.

11 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 2 - te ver e te querer)


Até os 3 meses de gestação meu maior medo era enjoar mas, pra minha sorte, não enjoei com absolutamente nada. Desejos? A única coisa que desejei, mesmo, foi abacaxi. O desejo de comer alguma coisa quando se está grávida é diferente. Sua boca enche d'água, você é capaz de sentir o gosto, o cheiro... 
Aqui na cidade tem um produtor que vende seu abacaxi (e outras frutas) na caçamba do carro, é o melhor abacaxi que já comi na vida! Senti uma vontade tão alucinante que comi 5. Sozinha. Um atrás do outro. O melhor: eles não deram afta.

Fora essa extravagância, passei a comer melhor, mais vezes ao dia (até porque você não tem que comer por dois mas a fome aumenta bastante!), passei a beber mais água, a tomar uma vitamina recomendada pelo médico e minhas roupas, mais rápido do que pensei, começaram a incomodar. Os sutiãs principalmente.

Sempre fui magra, não magrela, mas magra com curvas digamos assim. Os seios sempre foram grandes e nesta fase eles resolveram se super-desenvolver. É incrível como podem crescer tanto em tão pouco tempo! Meu marido achou tudo uma beleza... o desenvolvimento da gravidez até agora se resumiu entre bunda e peitos, como ele poderia não gostar? Além disso, li que muitas mulheres enjoam do cheiro do marido ou mesmo ficam "assexuadas" durante a gravidez, mas, como este não foi o meu caso, ele aproveitou bastante.

                                                                                    (auto-retrato)

Enquanto ele aproveitava as curvas eu as achava grandes, sinuosas e em franco desenvolvimento. O meu olhar crítico sobre mim mesma piorava. Me sentia cada vez mais gorda, inchada, feia e no dia seguinte... grávida, curvilínea e linda!

Alterações de humor, que já existiam, passaram a ser inevitáveis e intensas. Choro e riso, alegria e irritação. Pra ajudar, tivemos que fazer uma obra no telhado do quarto do bebê, chovia mais dentro que fora, e encontrar profissionais da área, por aqui, não foi nada fácil. O teste de o quanto meu marido é paciente foi superado...


(ele é meu super-herói)

Com quase 4 meses de gestação fizemos mais uma ultrassom. Aqui já deu pra ver o bebê com forma de bebê, se mexendo, embora eu ainda não o pudesse sentir. O Bruno me acompanhou (em todas!) e a emoção de ver uma minipessoa crescendo dentro de você é grande. Mais choro, mais risos! Nesse ponto parece que comecei a acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo comigo. 

O Bruno ter me acompanhado em todas as ultrassons (é assim mesmo que se diz?) foi muito significativo pra mim. Apesar de ele às vezes ter que se desdobrar em cem e sair mais cedo ou chegar mais tarde no trabalho, ele fez questão de estar presente. Cada vez que ele podia ver o bebê e ouvir seu coração batendo alto e forte eu o sentia mais envolvido, mais próximo da gravidez e entendendo melhor o que estava acontecendo comigo, com a gente! 
Saíamos do consultório sempre com um sorriso no olhar, com a sensação de que estávamos começando (de verdade) a nossa família!


(A imagem, como sempre, torna tudo mais fácil. (eu amo fotografia!))