31 de outubro de 2012

A história de Dante - uma gravidez (parte 9 - o parto)


Certa vez, conversando com a minha sogra sobre o parto, ela disse:
 _ A dor é tão grande que quando parece que você vai morrer, ele nasce e acaba tudo (!). 
Era por essa dor que eu estava esperando e ela ainda não havia chegado. 

Eu sabia que o Dante ia demorar pra nascer e isso ia se confirmando quando de tempo em tempo, vinha alguém meter a mão pra saber como estava a dilatação... passei a manhã toda nesse processo... 5, 6, volta pra bola, ela ajuda a dilatar! Até que a hora do almoço chegou e eu com fome só queria saber se eu poderia comer ou não, ainda bem, eu pude.

Almoçar com contrações foi engraçado. A sopa estava ótima (mesmo) e quando a dor vinha eu esticava o braço e entregava o marmitex pro Bruno segurar, quando a dor passava pegava de volta e continuava comendo. (Seria melhor se a maternidade tivesse aquelas mesinhas de comer na cama sabe... mas, fazer o quê!!)

Durante todo o dia pude ouvir outras mulheres dando à luz. Foi um processo interessante... interessante e torturante eu diria. Uma que estava bem ao meu lado parecia que estava na manicure tirando uma unha encravada. Quase nem se ouvia seus grunhidos e de repente tudo acabou. Rápido, limpo, quase indolor. Pensei: que bom, pode ser assim! O meu vai ser assim, já já!! (só que ela estava parindo o terceiro filho...) E então a "cabine" da frente se fecha, começa um corre-corre, gritos, choro, desespero, dela e meu. Essa sim trazia ao mundo seu primeiro filho, igualzinha à mim só que no fim, o bebê dela era prematuro e uma cesárea foi necessária. 

Ouvindo tudo isso chorei compulsivamente. Eu estava sentada na bola e agarrada à barra da bermuda do Bruno, com 8 cm de dilatação, uma dor tremenda, um medo iminente e tomando consciência de como ainda iria doer. Pedi pro Bruno acabar com aquilo, eu não queria mais ser mãe naturalmente, queria uma anestesia ou qualquer coisa que não me fizesse mais ouvir aqueles gritos, e que fizesse a minha dor passar mas, daqui pra frente quem gritou fui eu, e muito.

E eles continuavam me mandando sentar na porra da bola.
(O Bruno comentou depois que achou, honestamente, que eu ia mandar alguém enfiar a bola em algum lugar menor que seu diâmetro).

Nesse ponto eu já não aguentava mais caminhar no pequeno jardim que tem nos fundos do hospital e muito menos sentar na bola. Com oito dedos de dilatação a dor vai dominando e tudo o que eu queria era fazer força. Meu corpo fazia força.

Deitei na maca e segurando no lugar apropriado, comecei a empurrar o Dante pro mundo.
Eu só conseguia pensar que a hora havia chegado, isso no pouco tempo entre uma contração e outra, um grito e outro. Chamei por Deus, por socorro, pelo Bruno, pelos médicos e acho que por todos os santos e orixás que tenho conhecimento, aos berros. Vieram me examinar e então um corre-corre pra ajeitar meu leito. As camas que parecem comuns são transformers, liberaram abas e partes escondidas e subitamente ela subiu e eu estava em posição, com os pés apoiados e a perna mais aberta do que eu sabia que podia.

Eles me mandavam fazer força:
_ Faz força Cinthia!! Faz força como se fosse fazer cocô!!!

Fala sério!! Eu queria colocar meu filho no mundo não defecar na porcaria da mesa!
É muito intrigante eles te mandarem fazer isso mas a força que se faz é a mesma... bom, a mesma não, eu diria que é no mesmo lugar mas a mesma, nem pensar!

Muito grito, choro, suplício por anestesia, uma dor lancinante, muita força, uma dor lacerante, gritos e grunhidos, muita força, uma dor descomunal e então uma preocupação começou a rondar... tinha mais gente no meu leito que nos outros, a médica chamava por um pediatra que não vinha, comentava que meu colo ainda estava grosso e eu fazia força cada vez que a dor apertava. 
Quando comecei a me preocupar de verdade... viram a cabeça do Dante saindo. 

_ Não pára Cinthia, não fecha a perna, vai! vai! vai! tá quase saindo!!

Pra fazer a força correta encostei o queixo no peito, olhando pra baixo e senti meu quadril alargando e ele coroar. Nesse ponto a médica fez uso de sucção pra que ele saísse de vez e eu não podia parar de fazer força embora eu já não tivesse mais forças. 

Não dá pra descrever a dor que senti porque nunca senti uma dor tão forte, parecia que eu ia "espocar", virar do avesso, ter o quadril lançado a metros de distância, mas a sensação de que está acabando veio junto. Com a sucção a cabeça saiu, quando vi a cabeça dele senti os ombros passarem, um ardor enorme e então o resto do corpo e o alívio. Ele estava no meu colo! Eu chorava, respirava, ria, sentia alívio, medo, alegria, cansaço, desespero (atrasado), um turbilhão de sentimentos inexplicáveis até que ele chorou e tomei consciência de que ele havia nascido. Dante estava em meus braços e eu não conseguia mais pensar, só olhava aquele corpinho melado de todos os líquidos e gosmas e sangue e pensava: _ como ele é lindo!!! Acabou!! Ele está aqui! 


Não sei quanto tempo esse último processo durou mas, apesar de parecer longo não durou muito. Dante nasceu às 16:03h do dia 10/09/2012 com 49 cm (ufa! ele não é um alien!), 3.265 kg e o cordão umbilical enrolado em duas voltas no seu pescoço. Mesmo assim, tudo deu certo e hoje, depois de tudo, posso dizer:

_ Me tornar mãe foi a coisa mais rock n' roll que já fiz na vida!




O Bruno se manteve ali, firme e forte, sem desmaiar nem fraquejar. Segurou minha mão, chorou comigo, me motivou e ainda cortou o cordão umbilical, e isso me deixou mais feliz ainda!

(nos melhores momentos da vida sempre estaremos descabeladas)
Sempre ouvi dizer que depois que nasce, acabou. Mentira!! Retirar a placenta dói também, anestesiar e levar pontos por causa de uma pequena laceração dói mais ainda. Eu nem conseguia olhar direito pro Dante ali no meu colo por causa dessas pequenas dores dos procedimentos pós parto mas eu queria vê-lo. Queria olhar pra ele, seus dedinhos das mãos (grandes pacas por sinal), seus pés, queria ver se cada pedacinho estava lá, perfeitinho e passei então pra investigação: olhei mãos, pés, dedos, lábio, genital... eu queria olhar pra cada pedaço dele e saber se tudo estava ali, se ele era perfeito com todos os seus "seis dedinhos" como a gente costumava brincar durante a gravidez e tudo estava lá, em seus devidos lugares!


Ainda durante os procedimentos pós parto eles já me incentivaram a amamentar e a sensação é que ele nasceu com dentes! Amamentar é difícil, ainda mais aprender a amamentar ali, com dor, desajeitada, exausta! 

O que ajudou foram todas as precauções que tomei na gravidez (vou contar as dicas no próximo post) e as enfermeiras, que entendem essa dificuldade e vem socorrer, dar orientação... Também colocaram as pulseiras de identificação o que me deixaria mais tranquila caso ela não fosse larga o suficiente pra sair do bracinho dele. 

Após o parto eles apenas limpam o bebê superficialmente, pesam, medem, colocam a solução de nitrato de prata em seus olhinhos, o vestem e o devolvem pra mãe. Mesmo assim, a troca de bebês sempre foi o que mais me apavorou quando eu pensava no parto e o Bruno, sabendo disso, acompanhou o Dante e me deixou tranquila.

Quando o devolveram pra mim ele estava enroladinho nas roupinhas que tantas vezes olhei imaginando como seria essa cena. Senti o tempo congelar pra que eu o observasse e ele era calmo e lindo como o pai, branquinho como eu. E o Bruno... o Bruno sorria com os olhos como nunca antes eu havia visto, sua alma estava iluminada e isso o tornava radiante. 

Nós estávamos felizes.

Mais de 10 horas de trabalho de parto e enfim estávamos com nosso filho no colo. Podíamos comemorar, mas antes, iríamos passar a noite na enfermaria e fomos pra um quarto com o ar condicionado quebrado.

Depois de dar à luz num processo tão extasiante e intenso eu estava "anestesiada". Eu havia passado pela experiência de um parto normal, me sentia uma super-mulher, exausta, mas uma super-mulher!! Meus braços e pernas doíam mas meus olhos estavam abertos, eu não conseguia parar de sorrir ao olhar pro Dante e quando me voltava pro Bruno, lá estava ele, com o mesmo sorriso no olhar apesar de todo o calor, o desconforto e os pernilongos presentes.

                                     

No mesmo quarto estavam mais duas meninas, ambas na casa do 20 anos que haviam perdido seus bebês, ambas fitavam o Dante com alegria e dor presentes no olhar. Me senti mal por elas. Como podia eu demonstrar tamanha felicidade, abraçar e beijar meu filho e marido comemorando nossa nova vida com elas ali ao lado, passando tamanha dor? No começo achei que seria mais "humanizado", seguindo o termo que eles costumam usar para seus partos, que a maternidade separasse os casos mas hoje não tenho tanta certeza. Quem sabe a nossa felicidade tenha levantado o astral delas e ajudado a manter a esperança? Prefiro pensar assim...

Depois de tudo, voltar pra casa no dia seguinte foi como completar o sonho. 

Chegar e ver que tudo o que preparamos durante esses nove meses pode agora enfim, ser usado, é mais do que bom. Trazer o Dante com saúde, perfeitinho e deixar a casa toda com cheiro de bebê é a melhor parte da história, talvez a história mais intensa que eu e o Bruno temos pra contar desde que nos conhecemos (e ela está só começando!).


                       

9 comentários:

  1. Que linda historia,e que facilidade vc tem com a arte de escrever e a frase que mais gostei... Me tornar mãe foi a coisa mais rock ' roll que já fiz na vida!!!daqui pra frente vou começar a cobrar o livro...bjs amo vcs ...

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    1. Já tô mesmo começando a pensar nisso, imagina o Dante vendo sua história publicada?!

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  2. Eu digo a mesma coisa mãe. Realmente foi a coisa mais Rock n´ Roll, melhor... HEAVY METAL que já passamos !!! E amei cada instante... Como é interessante você chegar em casa cansado, destruido pelo trabalho, estando irritado, frustrado ou sei lá mais o que ... e é só olhar pro rostinho, pezinho, mãozinha e bum !! Tudo vai embora e a gente fica com aquela cara de babaca que só um pai pode entender !!! hehehehe e viva o Dante !!! e viva a Cinthia !!! e viva a Tia Elvira e o Tio Dundum, sem eles nada disso teria sido possível. E a você também Mamis, parte integrante do plano maquiavélico de nos juntar anos atrás. Só você mesmo pra me conhecer tanto a ponto de poder prever o futuro !!!

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  3. Que lindo!!! Emocionante demais... Cíntia esses relatos ajudam muito a fortalecer e desanuviar o mundo de curiosidades e ansiedade (claro que continuo ansiosa, mas sinto que as coisas vão ficando mais claras)! Obrigada por ter atendido minha curiosidade uns 15 dias antes desse texto (olha aí a ansiedade da mãe de prima!). E muita felicidade a vocês três!!!

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    1. Que bom que ajudou de alguma forma Mayara! Logo logo é vc quem vai contar essa história!! Felicidades pra vcs tb!

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  4. Lais Katsuragawa1/11/12 12:00 PM

    Adorei é um pouco difícil imaginar vocês como pais, sempre foram o tipos titios rsrs. Que Deus abençoe vocês e sejam muito felizes!!

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  5. Poxa Cinthia... estou aqui em lágrimas.. vivi tudo de novo lembrando de qdo o Caio nasceu.. só que nos meus gritos eu berrava "eu quero minha mãããããeeeee!!". E uma enfermeira me disse na época que a dor do parte é uma dor que a gente esquece. Você TEM que escrever um livro!!!

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    1. E vc esqueceu? Eu ainda não mas, devo dizer que já não a "sinto" mais como nos primeiros dias!!

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  6. ah.. e o Caio era quase um alien, hehe.. 52cm e 3,9kg...

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