Domingo 09/09 acendemos a churrasqueira e almoçamos ouvindo um sambinha num calor daqueles. Depois do cochilo da tarde, senti vontade de comer bolo de
chocolate com sorvete de creme, lindos, os homens da casa se prontificaram a me
atender e lá pelas 16h, o Caio fez o bolo e o Bruno comprou o sorvete mas, antes de
o bolo sair do forno senti como se tivesse feito xixi na calça e fui pro
banho só que a quantidade de água era maior que o normal e senti um segundo fluxo. Chamei o
Bruno.
Pelo que tinha lido a bolsa rompia de uma vez e o fluxo era bastante
grande, mas o meu era diferente, saía aos poucos. O Bruno imediatamente
procurou "pai google" e viu que aquilo também era possível. Com um teste rápido - deitei na cama e com uma toalha entre as pernas tossi, o líquido saiu novamente - confirmamos.. estava
acontecendo, a bolsa havia rompido!
Ele ficou pálido. Começou a andar de um lado pro outro sem
saber o que fazer...
Dez dias antes do previsto o filho dele queria vir ao mundo!
Falei pra ele se acalmar que aquilo podia levar muitas e muitas horas, tomei
meu banho e fui arrumar a minha mala da maternidade, a do bebê já estava pronta
a algumas semanas.
Alguns dias antes, tentando me preparar pra esse momento,
pesquisei o que seria necessário levar pra maternidade e fiz uma lista, isso me
ajudou porque o Bruno pode se orientar e me ajudar, além disso, também me informei sobre a água da bolsa, que não pode ser escura nem esverdeada - isso pode indicar o sofrimento fetal - e ainda bem, a minha estava transparente com um pouco de sangue, o que também é normal.
De mala pronta e banho tomado fui estender a roupa que a
máquina havia acabado de lavar. O Bruno ajudava e falava que eu deveria
entrar no carro e irmos logo, que aquilo era ridículo, como eu poderia estender roupa com a bolsa rota?
Mas eu sabia que poderia demorar pelo menos dois dias pra eu
voltar pra casa, então...
Fomos eu, o Bruno e o Caio (meu sobrinho) pra maternidade e depois do
dolorido exame de toque, vimos que eu não havia dilatado nem um centímetro, mesmo assim, o médico já avisou que eu não voltaria pra casa sem meu bebê. Eu ficaria internada
até ele resolver sair.
Pra começar o processo troquei os absorventes que vim
usando de casa pelo "fraldão", um absorvente mega-ultra-grande que
eles tem na maternidade. Foi ótimo porque o fluxo da água da bolsa de repente
aparecia e molhava tudo!
Tomei soro, fiz um exame que dura 20 min acompanhando o
batimento cardíaco do bebê, tirei sangue e conheci outras mulheres prestes a se
tornarem mães pela primeira vez como eu, uma delas tinha 14 anos. Tive tempo
pra pensar em tudo o que passei na gravidez, as alegrias e as dificuldades e pensei
em como estaria sendo para aquela menina, da idade da minha sobrinha, estar
ali, sentindo o mesmo que eu, macaca velha.
Difícil imaginar que uma criança esteja preparada pra isso. Mais difícil ainda é aceitar que isso é comum pelas bandas de cá.
Enquanto eu esperava o pinga-pinga do soro acabar o Bruno
levou o Caio pra casa e trouxe um lanche pra mim. Do soro fui encaminhada para
uma ultrassom que mostrou que o bebê estava bem mas que tinha +/- 54 cm!! Agora sim me senti um alien que carregava outro. Como assim 54 cm? Que bebê é esse? Filho de gigante?
Eu e o
Bruno tomamos um susto e descrentes só podíamos esperar pra ver...
Depois disso me mandaram pra enfermaria onde eu passaria a
noite. Mandei o Bruno de volta pra casa por que a cadeira que acomoda o
acompanhante é desconfortável e estava quebrada. Prometi pra ele que ligaria
assim que as contrações entrassem na casa dos 5 em 5 min.
Algumas coisas
poderiam ajudar muito na minha "crítica" à maternidade mas, a
verdade, é que tem muita coisa que não funciona... o bom mesmo foram as pessoas, dos faxineiros aos médicos fomos bem tratados e isso fez toda a diferença.
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(enfermaria) |
Acima da cabeceira de todos os leitos existe uma luminária
mas nenhuma estava funcionando.
Se funcionassem não seria preciso acender a luz do quarto
e incomodar todas as pacientes pra prestar atendimento apenas a uma. Os botões
para chamar os enfermeiros também não funcionam, sendo assim, se você não estiver
acompanhada o jeito é segurar a onda, levantar e ir até lá, gritar e acordar
todo mundo ou pedir para o acompanhante de alguém, que esteja por ali, faça
isso por você. Acredite, as pessoas ainda se ajudam, principalmente nesses
momentos.
O banheiro é outra coisa que me deixou estressada.
O papel higiênico fica ou atrás do vaso ou na lateral, longe do alcance das mãos de quem está com um soro enfiado na veia e sentindo dor. Infelizmente não fotografei porque eu não conseguia pensar em mais nada a não ser na minha dor, no meu parto, no meu bebê que estava pra chegar!
Durante toda a noite as contrações foram chegando,
aumentando...
Lá pelas 5 da manhã eu liguei pro Bruno. Estávamos prestes a
conhecer nosso filho e isso trazia a ansiedade junto com a dor que agora estava
se fazendo presente de 3 em 3 min.
Quando ele chegou me acompanhou em outro exame de toque e eu
estava com 3 cm de dilatação. Nesse ponto eu achava que a dor já era forte e
que por causa do pouco tempo entre uma contração e outra estaria mais dilatada,
mas percebi que aquilo iria durar muitas horas...
Fui pra outra sala (onde seria o parto) e me colocaram em outro soro, as contrações diminuíram e fui orientada a me exercitar pra ajudar no processo.
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(maca transformer - sala de parto - foto: Bruno Monteiro) |
De agora em diante fomos eu, o Bruno, as contrações, o soro, a caminhada em círculos pelo pequeno jardim e a bola de pilates num trabalho de paciência e dor, esperando as horas passarem e a dilatação aumentar.
(passeio pelo pequeno jardim - foto: Bruno Monteiro)